sexta-feira, 1 de novembro de 2013

    O desafio de restaurar vidas em Santa Cruz do Capibaribe

               Conhecida como a terra das confecções e principal integrante do Pólo Têxtil de Pernambuco, Santa Cruz do Capibaribe, se destaca não só pela confecção. Mas pelas ações sociais que estão modificando a vida de centenas de jovens usuários de entorpecentes que vivem as margens da sociedade civil.


    Moda Center Santa Cruz
    Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, a faixa etária dos 25 aos 29 anos representa a maior parcela da população estipulada em 9,565 mil habitantes. No entanto, o município enfrenta o desafio diário de conter a quebra de vínculos familiares, apontada como umas das maiores causas do ingresso dos jovens locais no mundo das drogas lícitas e ilícitas.
    A fragilidade dos relacionamentos humanos tem sido estudado por muitos sociólogos, como o alemão polonês radicado na Inglaterra, Zymunt Bauman, conhecido pelo conceito fundamental da ‘Modernidade Líquida’. “Eu acredito que muitos jovens não têm consciência do que são laços fraternos, uma vez que nunca conheceram ou vivenciaram”, explicou Baunam.
    Ao percorrer órgãos como o Conselho Tutelar e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Santa Cruz, constatamos a realidade apontada pelo sociólogo. “Recebemos constantemente pedidos de ajuda de familiares de usuários de drogas. Essa procura dar-se pelo desespero dos pais em ver seus jovens se autodestruindo e a falta de estrutura familiar” relatou a Assistente Social Sineide Tôrres. 
    Desafio Jovem
    Além dos órgãos públicos, o município conta ainda com duas ONG’s que se dedicam integralmente a reabilitação e ressocialização dos jovens usuários de drogas. Entre elas, destacamos o trabalho desenvolvido pelo casal de missionários Benildo Alexandre e Neide Lima através da Casa de Recuperação Desafio Jovem. A mudança de vida proposta pela entidade sem fins lucrativos tem atraído jovens de todos os recantos de Pernambuco, que vêem o Desafio como a última oportunidade de terem suas vidas restauradas. “Temos uma fila de espera de pessoas, em suma maioria jovens, querendo ingressar no Desafio. Mas infelizmente não dispomos de voluntariado e condição financeira suficiente para atender mais pessoas” lamenta Benildo.
    Para manter os trabalhos, entidades filantrópicas como o Desafio Jovem, contam apenas com doações e a renda obtida com as terapias ocupacionais, bastante comuns na região. As dificuldades enfrentadas pelos missionários são evidenciadas nas discussões sociais de Baunam. “Contemplamos diariamente como se faz o mal, como se sofre a dor, e dizer que nada podemos fazer pelo outro é uma desculpa fraca e pouco convincente, até mesmo para nós próprios”, questiona o sociólogo.
    Entretanto, os jovens que são autuados cometendo ato inflacionário são sentenciados a medidas socioeducativas, como a Prestação de Serviço à Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (AS) acompanhada por educadores sociais. “Outro mecanismo utilizado para reabilitação são as internações para desintoxicação em ONG’s, Centro de Atendimento a Usuários de Drogas (CAUD), Programa Atitude, entre outros” destacou a Assistente Social Sineide.
    Mesmo com as deficiências de infraestrutura e voluntariado, é visível o empenho e dedicação das políticas públicas e das instituições não governamentais do município na reabilitação e ressocialização dos jovens usuários de drogas. Embora estejamos no auge da pós-modernidade, onde a “solidez” dos laços fraternos fora substituída por relacionamentos líquidos e online. Tenho a nítida impressão de que precisamos voltar ao seio familiar, no intuito de “reaprendermos” aqueles valores simples de sociabilidade, muito distinto do “disponível” ou “offline” presente na sociedade (pra lá de) pós-moderna.


    Por Antonio Carlos
    Fotos: Acervo Clic Art

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